sábado, 2 de setembro de 2017

Lagoa do Cassó a Jericoaquara do Maranhão


Talvez muitos ainda não a conheçam. Alguns até já ouviram falar, mas não imaginam a beleza natural que o Maranhão esconde. A lagoa de nome esquisito, denominada Lagoa do Cassó, está localizada em um dos povoados do município de Primeira Cruz, a 217 km de São Luís. Apenas cerca de 150 famílias são donas desse lugar paradisíaco, conhecido como a ‘Pérola dos Lençóis Maranhenses’.

Maria Rosa Costa e José Costa dos Santos são um dos nativos mais antigos do Cassó. Ambos aposentados, ela com 65 anos e ele com 71. Quem os vê hoje, donos da única casa para alugar do povoado, não imagina a história por trás da conquista.

Depois que se casaram, ‘meu véi e minha véia’, como carinhosamente chamam um ao outro, tiveram oito filhos. O primeiro ‘não vigou’ e, como consequência, Maria Rosa sofreu derrame, o que a deixou cega por alguns meses. Voltou a enxergar um tempo depois e, por isso também, tem problemas de esquecimento até hoje. “Sei dos detalhes da minha própria história só porque me contaram, mas eu não consigo lembrar”, disse.

Os outros sete filhos, quatro mulheres e três homens, cresceram com a mãe costurando e o pai trabalhando na roça para lhes garantir o sustento e sobrevivência. Como acontece normalmente no ciclo da vida, um a um os filhos foram saindo de casa para construir a própria família. Menos Jaime. Esse continuou morando no Cassó, casou e teve três filhos.

Por assistir de perto a velha casa de taipa se deteriorar com o passar do tempo, Jairo idealizou um novo lar para os pais. “Foi ele quem teve a ideia”, contou seu José. Não só idealizou como construiu com as próprias mãos.

A ideia do filho, segundo seu José, era lhes proporcionar uma velhice confortável, numa casa mais ampla, de tijolos, telhados, paredes rebocadas, piso e avarandada. “E ele conseguiu”, afirmou José, ao mesmo tempo em que seus olhos se enchiam de lágrimas.

A emoção tem uma explicação. É que quando Jaime concluiu a casa, decidiu que faria uma viagem, daquelas para nunca mais voltar. Aos 38 anos suicidou-se. Nem a esposa, nem seu José e nem dona Rosa sabem explicar a repentina e dolorosa decisão. “Passei 35 dias sem comer e sem dormir. Fui embora! Eu não conseguia ficar aqui”, contou seu José.

Os aposentados nunca mudaram de endereço como estava nos planos do filho e, quase dois anos depois da tragédia, fazem do trabalho o refúgio para tamanha tristeza. Eles são donos da única padaria que existe no povoado. Tudo é bem simples. Fica em um cômodo escuro da velha casa, aonde a iluminação só vem com o raiar do dia, que é quando dona Rosa abre a janela para atender a clientela.

A baixa luminosidade, no entanto, nunca foi problema e os poucos materiais – forno a lenha, modeladora, cilindro e abafador – são o suficiente para fazer os deliciosos pães, como aprendeu com o Jaime. Quantos pães são vendidos por dia? – “Eu não sei e também não importa. Faço porque me faz lembrar meu filho. Foi ele quem me ensinou”.

Para seu José só faltava se mudar para a nova casa, ideia que dona Rosa resistiu em aceitar.

A triste história da família Costa parece não combinar com as maravilhas do Cassó, mas foi nesse mesmo período em que eles tentavam se erguer, que o povoado de Primeira Cruz começou a passar por mudanças.

DESAFIO E ‘BOOM’ TURÍSTICO

É que antes do Circuito Maranhense de Águas Abertas – desafio de natação para profissionais e amadores – pouca gente conhecia o que de mais belo o Cassó teria a oferecer: uma extensa lagoa de água calma e cristalina rodeada de matas nativas e casas à beira, separadas apenas pela areia fina e branquinha.

O evento, que começou em 2015 e, agora em 2017, já está na sua terceira edição, foi o principal responsável por movimentar o local e transformá-lo em ponto turístico maranhense.

Este ano o desafio reuniu 150 atletas para disputarem nas modalidades maratona aquática, stand up padle e caiaque. Na natação, principal prova, os competidores foram desafiados a nadarem cinco mil metros, correspondente a extensão de quase toda a lagoa, que é de aproximadamente seis quilômetros. A medalhista olímpica Polyana Okimoto foi a campeã no feminino e o nadador maranhense Enzo Raiol venceu no masculino.



Agora, além dos 700 moradores, o povoado recebe o dobro do número de atletas por fim de semana. No dia da competição, por exemplo, uma média de 300 turistas estavam por lá.

Foi por conta desse boom que seu José trocou a ideia de morar na nova casa e decidiu que iria alugar para turistas. Foi no que ele investiu. Convenceu a esposa, aumentou o número de cômodos e tem garantido mais uma renda extra. Agora, assim como a padaria, de casa para alugar a do casal é a única do povoado. O valor do aluguel é de 300 reais.

OPÇÕES DE POUSADAS E INVESTIMENTOS

Assim como seu José e dona Rosa, outros nativos perceberam a necessidade de acomodar melhor os turistas que a lagoa recebe. Afinal, casas de veraneio já não supriam a procura pelo paraíso maranhense de águas límpidas. Foi aí que moradores, que antes só tinham a lavoura ou a pesca como sustento, se tornaram empresários, donos de pousadas. Já são cinco no total.




A pousada Bosque do Lago, uma das mais antigas às margens da lagoa, nasceu há três anos (logo após o primeiro campeonato de natação) e atualmente oferece quartos de casal e triplos, com diárias que variam de 150 a 200 reais.

Todos os quartos com ar-condicionado e Wifi, exigências unânimes da clientela. O hóspede tem direito, além do café da manhã, a utilizar serviços que proporcionam da aventura ao relaxamento: boias, caiaques, stand up padle e redes armadas dentro da lagoa. Já o almoço é por fora. O prato feito custa, em média, 25 reais por pessoa.

O proprietário Rosinaldo Araújo, ex – lavrador, explica o quanto valeu o investimento. “Mesmo com os seis meses de baixa que temos durante o ano, quando o verão chega compensa”, disse ele acrescentando que mais quartos estão sendo construídos para a chegada dos feriados dos dias 7 e 8 de setembro, Independência do Brasil e Aniversário de São Luís, respectivamente.



Visitantes que se encantaram com as belezas do Cassó também passaram a investir na comunidade. Foi assim que a antiga casa de verão à beira da lagoa, construída há mais de 18 anos só para receber familiares e amigos, virou a primeira pousada da região.

Hoje, a pousada de nome Porto do Caju oferece, basicamente, os mesmos serviços que a Bosque do Lago, porém, os quartos são quádruplos ou quíntuplos, com diárias de 400 e 500 reais, respectivamente. Para quem prefere economizar, as redes que ficam na varanda da pousada custam 50 reais.

“Vale a pena trazer a família, porque foge da rotina, aqui não tem agitação. Só tem tranquilidade. Sem falar nos passeios que são oferecidos”, disse o empresário Antônio José Araújo, pai da Lara Maria, de 7 anos, que também ficou deslumbrada com a lagoa, principalmente com a temperatura da água. “Gostei porque posso nadar tranquilamente e a água é maravilhosa, bem quentinha”.



Já para os mais aventureiros, como a família Gomes Leal, a pousada possui barracas de camping, que ficam a um metro e meio de altura do chão. O valor cobrado é de 150 reais para o casal.

“É uma experiência maravilhosa. Não parece, mas é confortável. No dia que eu voltar, ficarei na barraca novamente e, além de tudo o preço compensa”, garantiu o empresário Alleyson Gomes.

Sua esposa, a administradora Adla Leal, também elogiou e recomendou. “Nas primeiras horas fez bastante calor, mas quando chegou a madrugada veio o frio e o clima ficou agradável. Até a minha filha gostou”.

De acordo com o vice-prefeito, Nilson do Cassó, os turistas ainda são, em sua maioria, de São Luís. “Geralmente eles veem do passeio de Santo Amaro ou de Barreirinhas, chegam aqui e passam o fim de semana ou o dia”. Nem por isso pessoas de outros estados deixam de vir. Pelo contrário, ainda são minoria, mas turistas – inclusive gringos – de todas as partes já começaram a serem atraídos pela maravilha natural que se esconde no norte maranhense.

COMO CHEGAR À LAGOA




Uma das maiores dúvidas de quem já ouviu falar na Lagoa do Cassó é como chegar. Mas é muito fácil.

Para quem sai da ilha de São Luís o ideal é ir pela BR-135 até Bacabeira e pegar a estrada à esquerda, no sentido do município de Rosário. De lá, segue caminho, sentido Barreirinhas. Antes, ao chegar no retorno que dá acesso ao município de Humberto de Campos, é necessário ficar atento, porque perto dali, depois de mais ou menos 30 minutos de estrada, as placas dos povoados de Primeira Cruz começam a aparecer.

Ao contrário do que muitos imaginam, carros pequenos também chegam até lá. É só seguir pelo Povoado Mirinzal. A entrada fica um pouco mais à frente do Algodão.

Algodão é o primeiro deles, onde os visitantes que têm carros de pequeno porte costumam deixar estacionados para de lá seguirem viagem nos carros de tração, adaptados para levar até 20 pessoas. O valor do transporte varia de 250 a 300 reais.

Mais alguns metros de estrada, não demora muito e logo aparece a placa dos Povoados Aparecida e Cassó. De lá até o destino final são mais 20 km de estrada sem asfalto, só com muitos areais, brejos e mata nativa ao redor. O caminho ainda não tem sinalização e, por ser cheio de entradas de um lado e do outro, a presença de um guia ou de alguém que já conheça a estrada é ideal.



Quem escolhe passar por lá no horário do pôr do sol tem diante dos olhos a garantia de um espetáculo. É que às cinco da tarde o tom do céu ainda claro se mistura com a cor da areia branca. Uma cena confusa e ao mesmo tempo linda de se ver.

A medida em que o sol vai sumindo, a cena de quem olha pelo retrovisor do carro é de um céu avermelhado, sobrepondo a poeira deixada para trás. Mais um deslumbre para quem vê. Ali, o cenário é de tirar o fôlego. É só o começo da aventura até chegar ao destino final, um paraíso de água transparente e de natureza quase intocada.




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Do Enquanto isso no Maranhão, com informações: Agência Assembleia 




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