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Manuel Bernardino, o "Lenin da Matta", é tema de documentário | foto: frame do filme |
Por Zema Ribeiro
Quando foi contratada como antropóloga para realizar o Inventário Nacional de Referências Culturais, exigência do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) para processos de licenciamento ambiental de grandes empreendimentos, a cineasta e professora universitária Rose Panet deparou-se com um personagem no mínimo inusitado: Manuel Bernardino.
“Eu percebi que a história dele começa com um cara trabalhador, que sai viajando por vários lugares em busca de roça. Depois ele se torna um líder, depois um vegetariano e espírita. Eu associei isso aos fluidos corporais, suor, sangue e lágrimas, que são as três partes do filme”, adianta ela sobre Manuel Bernardino: o Lenin da Matta.
“Manuel Bernardino, um lavrador vindo do Ceará, sabia ler, pensar e interpretar o que lia. Ele vai sendo orientado pelo [médico] Tarquínio Lopes, por pessoas que vai conhecendo, que vão dando livros sobre socialismo”, continua. “Talvez na época, como era a única coisa que ele tinha para ler, porque era o que davam, ele foi se formando. Eu acho que essas leituras tinham a ver com o que ele pensava, sobre as injustiças que via na época no Maranhão.”
Com 52 minutos de duração, o telefilme Manuel Bernardino: O Lenin da Matta concorreu entre 768 obras inscritas no Programa de Apoio ao Desenvolvimento do Audiovisual Brasileiro (Prodav), um recorde para qualquer linha do Fundo Setorial Audiovisual (FSA). É o único telefilme nordestino selecionado dirigido por uma mulher.
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A cineasta Rose Panet, em entrevista a coluna Emaranhado | foto: Francisco Colombo |
Rose Panet nasceu em João Pessoa (PB), em 1970. Cidadã franco-brasileira, formou-se em ciências jurídicas e sociais na Universidade Federal da Paraíba (UFPB), doutorou-se em antropologia na École Pratique des Hautes Études (Paris, França) e vive em São Luís (MA), onde é professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Estadual do Maranhão (Uema). Sua tese de doutorado aborda a sexualidade entre os indígenas da etnia Kanela, no Maranhão. Ela já havia realizado os filmes O Choro da Vida e O Mocó de Quelé, que concorreram em edições do Festival Guarnicê de Cinema e Vídeo, em São Luís, além de 14 curtas-metragens institucionais para a Secretaria de Estado da Educação do Maranhão – onde trabalhou –, todos com temáticas indígenas.
O documentário Manuel Bernardino: o Lenin da Matta já estreou na TV Universitária de Pernambuco e será exibido, ainda em setembro, pela TV UFMA. Há a previsão de que, ainda em 2017, integre a grade de programação de mais de 90 emissoras públicas de televisão.
O protagonista, cuja voz em depoimento prestado numa delegacia de São Luís é interpretada por Zeca Baleiro, ganhou a alcunha de Lenin da Matta dos jornais Diário de São Luís e A Pacotilha. Manuel Bernardino, à época, arregimentou mais de 200 homens para as tropas de Luís Carlos Prestes, por sua vez alcunhado “Cavaleiro da Esperança”. Foi o maior contingente da história da Coluna Prestes. São fatos como esse que Rose traz à tona, através de depoimentos de nomes como Alan Kardec Pacheco, Anita Leocádia Prestes, Flávio Farias, Giniomar Ferreira Almeida, Lissandra Leite, Regina Farias e Wagner Cabral, ligando o Maranhão a acontecimentos históricos importantes, como a Coluna Prestes e a Revolução Russa.
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O documentário Manuel Bernardino: o Lenin da Matta conta a história de lavrador cearense que difundiu o pensamento socialista | foto: frame do filme |
Produção original da Lume Filmes, Manuel Bernardino: o Lenin da Matta tem argumento, roteiro, direção e assistência de produção de Rose Panet, direção de fotografia de Murilo Santos, montagem de André Garros e produção de Mauricio Escobar e Monica Melo.
No Maranhão, a primeira exibição do filme aconteceu na quinta-feira 14 de setembro, no Cine Lume, em São Luís, numa sessão para convidados. Outras exibições estão agendadas, também na capital maranhense: no dia 22 de setembro, às 18h, na Galeria Trapiche Santo Angelo (bairro da Praia Grande), em sessão gratuita e aberta ao público; e no dia 16 de outubro, às 19h, no auditório da Faculdade de Arquitetura da Uema (Rua da Estrela, Praia Grande), em sessão aberta.
É o mês do centenário do massacre da Praça Vermelha, destacado episódio da Revolução Russa. “Uma feliz coincidência”, comemora a cineasta.
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Cartaz do filme dirigido por Rose Panet |
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Do Enquanto isso no Maranhão, com informações: Itaucultura.org.br